O vazio existencial que vira vício

O vazio existencial é mais comum do que se pode imaginar. Todos já passaram por ele e muitos ainda enfrentam, tanto que nem sabe como é viver e sentir-se satisfeito com o que construiu. Há quem sinta falta e não sabe de quê, há quem sente e se desespera, há quem sente e se anestesia. O vício é a saída. O vazio existencial se torna armadilha. São momentos onde se sente uma necessidade muito grande de fazer algo relevante, algo que tenha sentido, mas nada que tenta fazer consegue ser realmente significativo ou sente-se sozinho(a), ansiando por uma presença que nunca vem.

Essa sensação gera uma ansiedade incontrolável e dramática, é como um imã que puxa para todos os lados e em nada permanece, porque não encontrou exatamente o seu lugar. alguns chamam de vazio existencial, outros dizem que é falta de deus e ainda tem aqueles que falam que é falta de uma ocupação. Essa angústia que traz a sensação de vazio e a ansiedade pode ter diversas causas. Algumas pessoas a sentem quando terminam um relacionamento e sentem que um pedaço seu partiu, outras sentem porque nunca alcançaram o relacionamento que desejam. Tem pessoas que, ainda com bons relacionamentos, sentem-se assim, pois não encontrou sentido na vida que leva. Essa sensação de vazio é comum em jovens, que estão prestes a construir o seu futuro e ainda não sabem o que os vai torná-los felizes e realizados, também é comum em idosos que, por consequência das suas crenças e da sociedade onde estão inseridos, acreditam que são inúteis e/ou indesejados.  

Quando falo de relacionamentos, representa a todo tipo: amoroso, familiar, profissional e de amizade. Quando falo de sentido, é tudo o que te dá força e motivo para levantar-se da cama todas as manhãs e batalhar. Muitos não têm ânimo para ir trabalhar, pois não vêem no seu trabalho verdadeira relevância para si ou para os outros, além de receber o seu salário. Muitos vão empurrando um casamento sem amor e sem planos, apenas porque acredita, por algum motivo, que deve ser assim ou porque se tornou a sua zona de (des)conforto. Sentido é aquilo que te traz paixão por qualquer coisa que faça, é aquilo que faz os olhos brilharem e dá forças para enfrentar a dor.

Para aliviar essa angústia, é comum prender-se em pequenos ou grandes vícios materiais, buscando fora aquilo que está perdido dentro de si, ocupando os dias com superfluidades que serão esquecidas assim que acabam. Pura enganação, puro desespero. Mas não pense que é vergonhoso desesperar-se, não é. É uma resposta emocional à algo que já não se aguenta mais e não precisa aguentar tudo mesmo. Nem todo desespero envolve gritos, raiva e choro descontrolados, às vezes pode ser silencioso e ter uma face de apatia. O problema é quando o desespero se torna hábito, quando ele provoca penas dor e nada de reflexão e mudança. A pessoa então vive para o vício, para a angústia e não para si mesma, perde a noção do que  autocuidado.

Como tudo, gera consequências; como algumas coisas, nem sempre trazem benefícios que as faça valer a pena; Perde-se o controle financeiro, pois está sempre necessitado de algo que o faça sentir-se valorizado; Sai semanalmente com pessoas que nem ama, só para não sentir-se solitário. Come descontroladamente para preencher um vazio que não é do estômago, mas um vazio existencial da alma; mergulha em bebedeiras e drogas que é para não encarar a realidade; cria um perfil bem sucedido, humorado e intelectual nas redes sociais, para sentir-se admirado(a). 

Verdade que, por vezes, é necessário compensar os problemas voltando nossa atenção para o externo. Como um café com um velho amigo ou presentear-se com uma roupa nova. É justo permitir-se descansar, sentir um pouco de alívio e bem-estar. É saudável se distrair às vezes, precisamos relaxar corpo e mente. Porém, sofre mesmo quem tem medo de sair desse “alívio” e encarar o problema de frente, criando um círculo vicioso.É literalmente um vício! É como a vida de um viciado em drogas que precisa de um alívio e depois a vontade e a insatisfação sempre retorna, o vazio existencial nunca é preenchido. Isso é um vício diferente. 

O psiquiatra Viktor Frankl afirma que as pessoas que encontram um motivo para viver, uma razão para a sua existência, conseguem enfrentar os desafios da vida com mais força e raramente desistem. O vazio existencial é o resultado de uma vida sem sentido maior. Como o prejuízo e a frustração o faz sentir-se angustiado, tudo se repete e nada se constrói.