Está colocando expectativas demais no seu marido?

É comum que, ao entrar em um relacionamento conjugal, muitos carreguem consigo uma bagagem emocional recheada de expectativas. Desejamos que o outro nos compreenda perfeitamente, que esteja presente em cada momento difícil, que seja nosso apoio inabalável, nossa fonte de segurança, consolo e cuidado. No entanto, quando essas expectativas ultrapassam os limites humanos e tocam o que só Deus pode suprir, o casamento começa a carregar um peso insustentável — e o cônjuge, por mais disposto que esteja, simplesmente não consegue suportar.

Dependência emocional

A verdade é que muitos casais tropeçam em um erro silencioso: esperar que o cônjuge preencha carências emocionais profundas, dores antigas, inseguranças que nem mesmo o tempo curou. Esperar que o outro se torne uma fonte constante de estabilidade, força e compreensão é colocar sobre ele um fardo que não pode ser carregado por ninguém que seja, como diz a Escritura, “apenas pó”.

Essa dependência emocional excessiva, embora muitas vezes nasça de uma dor legítima, invariavelmente leva à frustração, à raiva e à sensação de injustiça. Quando esperamos demais de uma pessoa limitada, inevitavelmente nos decepcionamos. E o ciclo é cruel: quanto mais esperamos, mais cobramos; quanto mais cobramos, mais sufocamos; e quanto mais sufocamos, mais nos afastamos emocionalmente — exatamente o oposto do que desejamos.

Expectativas exageradas é idolatria

No livro “Entre a dor e a promessa“, essa dinâmica é tratada com profundidade. A autora descreve como essa dependência pode, na prática, se tornar uma forma de idolatria. Quando colocamos nosso cônjuge no centro de nossas emoções, como se ele fosse a fonte de nossa paz e sentido de vida, estamos entregando a ele um lugar que pertence somente a Deus. Frases como “só fico bem quando meu marido está aqui” ou “só me sinto segura se minha esposa estiver ao meu lado” podem parecer românticas, mas escondem uma realidade perigosa: estamos edificando nossa estabilidade emocional sobre um alicerce humano, falho e mutável — e não sobre a Rocha inabalável.

A raiz da frustração

Esse tipo de idolatria, ainda que emocional e aparentemente inocente, é um desvio espiritual sério. A Bíblia descreve a idolatria como adultério, pois representa uma infidelidade no relacionamento com Deus. Quando o cônjuge ou o próprio casamento se torna o foco principal da vida, acabamos usando Deus como um meio para alcançar o que desejamos: um relacionamento ideal, um marido perfeito, uma vida conjugal sem falhas — em vez de colocarmos o relacionamento com o Criador como o fim último da nossa jornada.

O sofrimento surge justamente dessa inversão de prioridades. Quando buscamos no outro aquilo que apenas Deus pode dar — paz, consolo, identidade, cura — estamos fadados a nos sentir injustiçados, porque jamais receberemos tudo o que acreditamos merecer. Isso gera um senso contínuo de insatisfação e ressentimento. E o mais trágico é que, nesse processo, deixamos de enxergar o cônjuge como ele é — uma pessoa com limitações, dores, falhas e também com necessidades — e passamos a vê-lo apenas como um recurso emocional para nossa própria felicidade.

Por isso, a cura desse ciclo começa quando devolvemos a Deus o lugar que é dEle. Quando passamos a entender que o casamento não existe para nos servir, mas para glorificar o Criador. O casamento é uma aliança, uma ferramenta que Deus usa para nos moldar, amadurecer e revelar o Seu amor. Ele nunca prometeu que o outro supriria tudo em nós — pelo contrário, a Bíblia nos convida a buscar a plenitude nEle, e não no outro.

Invertendo as pririodades

Esperar que o cônjuge nos complete é querer ser servido em vez de servir. É agir com um egoísmo camuflado, esperando que o outro seja uma ferramenta para nossa autorrealização. Mas, como diz o livro “Entre a dor e a Promessa“, esse é o “início do divórcio”. Porque onde há idolatria, haverá frustração; e onde há frustração contínua, nasce a ruptura.

A saída? Depender de Deus. Nele, encontramos a única fonte segura e constante de amor, consolo, força e identidade. Ele é o único que pode fazer carne, ossos e tendões surgirem do pó — ou seja, transformar nossa aridez emocional em vida abundante. Quando aprendemos a nos satisfazer nEle, podemos olhar para o cônjuge não com expectativas irreais, mas com compaixão, graça e verdade. E assim, finalmente, o amor se torna livre — e o casamento, um reflexo da glória de Deus.