Cobrar mudança pode não ser a melhor estratégia

Em orientação de casais, é frequente a reclamação de que o parceiro não muda. Algumas pessoas se esforçam muito para mudar o outro, mas isso não acontece e até piora a situação. Mães e pais também cobram mudança dos filhos e, muitas vezes, não conseguem o resultado que desejam.

Como é o processo de mudança?

Compare-se consigo mesmo há 5 anos atrás. Você é diferente hoje e talvez nem saiba o que te fez mudar tanto. Há mudanças intencionais, que geralmente acontece quando sofremos e também há mudanças que vivemos sem planejar ou perceber.

Algumas coisas só notamos quando olhamos para trás. Isso acontece porque a mudança é um processo, não é algo que acontece de repente. Ela precisa de um motivo, de um ambiente e de uma continuidade. A mudança está muito ligada ao processo de amadurecimento emocional.

Exigir a mudança de alguém segundo as nossas necessidades não funciona. Porque, a outra pessoa não está no mesmo nível de desenvolvimento emocional, é preciso ter uma caminhada para alcançar a mudança real. Ela começa pela mente, antes de aparecer no comportamento. Querer que o oposto aconteça é caminhar em direção ao fracasso.

As pessoas não mudam de verdade, a menos que essa mudança faça sentido para elas. Algumas pessoas podem até mudar de comportamento para agradar o outro, mas não é uma mudança definitiva. A mudança superficial produz desconforto, sofrimento e infelicidade, por isso ela não será mantida a longo prazo. Em pouco tempo o comportamento anterior irá retornar.

Como agir quando quero que alguém mude?

A maioria das pessoas insistem ao outro que precisa mudar, colocando diante dele seus erros e consequências, como uma crítica severa. Insistindo, falando, reclamando, protestando. Essa atitude só conseguirá raiva e afastamento emocional do outro. Basta falar uma ou duas vezes, em um momento apropriado, de preferência a sós. A responsabilidade e a escolha de mudar ou não é da outra pessoa.

Julgamentos constroem muros. Criam discussões e torna a relação cada vez mais intolerante. A outra pessoa provavelmente irá pensar “se não tolera meus erros, também não irei tolerar os erros dele(a)” – a guerra inicia.

Grande parte das discussões acontecem por uma falha na comunicação. Invés de expressar ideias, muitas vezes expressamos nossas emoções, que são incompreendidas por aquele que não as sente. É importante saber como expressar o que você acredita que deve ser mudando, de forma racional e dando espaço para o outro fazer isso também – até mesmo defender-se dizendo que não precisa mudar.

Em alguns casos, a imaturidade está em você e quem precisa mudar é você, mas por não abrir espaço para uma “conversa de adulto” e reflexão aberta, pode não perceber. Por isso, é sempre necessário se colocar como igual. Não é porque descobriu um erro no outro, que será superior e poderá mandá-lo. Algumas pessoas fazem isso sem perceber.

O amor exige tolerância e compreensão. Diferente da paixão que vive em fantasias, o amor precisa encarar a realidade dura que é a imperfeição do amado. O amor precisa perdoar decepções e aceitar a pessoas amada exatamente como ela é, sem acrescentar nem tirar. Caso contrário, você não ama a pessoa, mas a idealização dela, e isso não é amor, é ilusão.

“através do seu amor a pessoa que ama capacita a pessoa amada a realizar suas potencialidades. Conscientizando-a do que ela pode ser e do que deveria vir a ser, aquele que ama faz com que estas potencialidades venham a se realizar.” (Viktor Frankl)

Conscientizar, é isso que deve ser feito. Sempre com amor e tolerância. Respeitando a liberdade que a outra pessoa tem de mudar ou não.

Como agir quando o outro não muda?

Quando queremos que alguém mude, temos em mente que o relacionamento irá melhorar com as mudanças necessárias e que os problemas terminarão. Pode ser que isso seja a verdade, mas também pode ser que não.

Quando coloca um comportamento como responsável pelos problemas, pode estar fechando os olhos para outros fatores que podem estar influenciando também. Então, se o comportamento mudar, os problemas podem continuar ou até poderão surgir novos problemas.

“Se a vida não corresponde às nossas esperanças, não é forçosamente a vida que está errada: pode ser que sejam as nossas esperanças que nos enganam” (Sponville)

Você deve se concentrar naquilo que você é e no modo como encara as vida. Entender que a vida não é como desejamos é angustiante, mas é a única forma real de viver. Exigir que a vida seja como desejamos, não é diferente de uma criança esperneando por algo que não ganhou. Ao aceitar isso, seremos capazes de lidar com aquilo que não gostamos, criando estratégias eficientes para mudar.

E se o outro me prejudica?

Alguns comportamentos do outro podem prejudicar a saúde mental, física e também questões cotidianas, como finanças e conivência social. Quando existe um sofrimento intenso, esse relacionamento pode ser abusivo. Se você tem dúvidas sobre o que é um relacionamento abusivo, clique neste link.

Nem sempre lutar pela continuidade do relacionamento é o melhor fazer, principalmente se tratando de uma relação abusiva, Neste caso, o ideal é prudentemente sair da relação. Aumente a sua autoestima, reconheça e defenda suas necessidades, procure ajuda.