Em 1988 a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a espiritualidade como conceito multidimensional de saúde, considerando questões de significado e sentido da vida, bem como o envolvimento religioso. Além de ser uma questão de saúde, é uma realidade popular que 92% da população mundial declara ter algum vínculo espiritual ou religioso. Sendo assim, ignorar um número tão significativo nada mais seria do que negligência profissional.
O que é espiritualidade
A espiritualidade, bem como a religiosidade, diz respeito as convicções não materiais que as pessoas carregam, desde princípios morais até compreensões emocionais, sociais e filosóficas. A religião concretiza essa espiritualidade em ritos e regras. Por isso, a espiritualidade interfere diretamente em todas as áreas da vida de uma pessoa, desde familiar, até profissional.
As crenças interferem na forma como as pessoas lidam com a dor, com perdas, como se relacionam, como compreendem suas emoções e sua sexualidade, como veem seus corpos e, até mesmo, quais suportes sociais estão disponíveis. Devido a tudo isso, a espiritualidade tem uma atuação muito poderosa, que pode ser utilizada de forma terapêutica para promover a saúde mental do paciente.
Qual é a responsabilidade do psicólogo
Entendendo que a espiritualidade e a religiosidade estão presentes no cotidiano das pessoas, é muito importante que o psicólogo busque conhecimento acerca dos princípios do seu paciente, para construir uma terapia que respeite essa esfera e tenha significado para ele. Considerar a sua espiritualidade como atuante ativa e potente colabora para uma visão integral da sua qualidade de vida. Assim como em psicoterapia considera-se os benefícios da atividade física e da boa alimentação, também deve se considerar e informar os benefícios da espiritualidade.
É muito importante ressaltar que informação e manipulação são coisas completamente diferentes. De acordo com o Artigo 2º do Código de Ética do psicólogo, é vedado ao psicólogo “Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação
sexual ou a qualquer tipo de preconceito quando do exercício de suas funções profissionais;”. Ou seja, o psicólogo não está proibido de oferecer informações, principalmente quando as mesmas estão bem fundamentadas em dados científicos e cooperam para a qualidade de vida do paciente. A proibição está relacionada com a indução e com a manipulação.
Além do Código de Ética do psicólogo, a atuação profissional é regida pela Legislação Nacional , que garante o respeito a todas as religiões e a laicidade do Estado. O termo “laico” não significa sem religião, mas imparcialidade religiosa. Isso significa que todas as religiões devem ser igualmente respeitadas, e nenhuma pessoa deve ser atacada de qualquer forma por não se submeter a uma doutrina religiosa ou crença espiritual. Segundo isto, cabe ao psicólogo respeitar todo tipo de manifestação religiosa.
É esperado que os psicólogos se manifestem sobre os temas que mais afetam a população, por exemplo: quando o diagnóstico de depressão e ansiedade cresceram exponencialmente, os psicólogos começaram a falar sobre isso publicamente; quando violência contra a mulher começou a aparecer mais nas mídias, os psicólogos começaram a falar sobre isso; quando ocorrem situações marcantes de racismo, os psicólogos se manifestam sobre isso publicamente. Considerando que 84% da população mundial declara ter alguma religião, é crucial falar da influencia religiosa na saúde mental.
Como o psicólogo integra espiritualidade na terapia
Em processo terapêutico cabe ao psicólogo buscar compreender como as vivências religiosas e espirituais dos seus pacientes impactam a sua vida emocional e o seu processo de cura, considerando que a vivência religiosa é um lugar de simbolização do sofrimento psíquico. A vida espiritual o paciente também constrói um processo de subjetivação, no qual o psicólogo é um facilitador do processo de autoconhecimento dessa esfera espiritual.